Essa coisa me intriga desde a primeira volta de Ronaldo Fenômeno aos campos, depois de tão grave lesão como aquela. Você olha nos olhos de Ronaldo, você ouve Ronaldo falando, mede seu gestual, e ali não encontra nem uma centelha do sujeito determinado, competitivo, capaz de se atirar ao sacrifício absoluto em busca de um objetivo. Ao contrário: Ronaldo transmite, antes de mais nada, placidez, quase um alheamento com o que está á sua volta, para não dizer que consigo mesmo. Seu olhar é o de quem está vendo a banda passar, seu sorriso é, antes de tudo, de aceitação e confraternização. Falando na banda, há um quê de Chico Buarque em Ronaldo Fenômeno, que talvez explique parte desse carinho que os torcedores no mundo todo lhe devotam. Obviamente, não no trato com a bola, que certamente Chico trocaria vida e obra fabulosas por ser dez minutos Ronaldo. Não sei, o sorriso, o jeito de falar, uma certa introspecção que colide com o destino de pop star, alguma coisa tem, como se ambos fosse impulsionados por cordéis mágicos que nada têm a ver com suas próprias personalidades. Mas, isso é periférico, pouco tem a ver com nosso assunto. E o nosso assunto é o seguinte: o que move Ronaldo Fenômeno, um craque que atingiu todas as metas – fortuna incalculável, títulos e fama – como nenhum outro de sua geração, a voltar aos campos com essa renitência singular? Mais dinheiro? Mais fama? Mais recordes a serem batidos? A sedução irresistível aos holofotes, somada aos aplausos da galera? Cada um desses fatores certamente está lá no consciente ou no inconsciente do craque. Mas, desconfio que, no princípio de tudo, lá no fundinho da alma de Ronaldo está o be-a-bá da cartilha da vida – o menino e a bola.
Veja isso e muito mais no futebol descontraído do Blog do Helena.
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